JOGO DE CENA

De: James Fensterseifer <jogodecena@abordo.com.br>
Data: Sexta-feira, 30 de Junho de 2000 09:39
Assunto: JOGO DE CENA DE VOLTA!!!!!


-----Mensagem original-----

Com o patrocínio da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL o JOGO DE CENA retorna na quarta-feira, dia 12 de julho, no Teatro da Caixa, às 20h30. A apresentação continuará por conta de Welder & Pipo.

De julho a dezembro serão 6 edições do programa no ano em que o mesmo completa 15 anos de criação. Cinco programas no Teatro da Caixa (12/07; 09/08; 13/09; 11/10 e 08/11) e um, de Melhores Momentos, na Sala Villa Lobos no dia 13 de dezembro. Sempre às quartas-feiras, sempre às 20h30. Ingressos a R$ 10,00 e R$ 5,00 (estudante). Censura 10 anos.

Histórico

Em junho de 1985, numa mesa de bar, um grupo de artistas teve a idéia de fazer uma feira de cenas (a exemplo da já existente Feira de Música). A idéia foi levada até a FCDF onde por sugestão do poeta Tetê Catalão foi batizada de Jogo de Cena. No início o projeto era realizado pelas assessorias da FCDF e acontecia no Teatro Galpãozinho (508 Sul). A grande procura por parte do público e dos artistas desde as primeiras edições gerou a necessidade de um espaço maior obrigando a produção do programa a realiza-lo, em 1987, na Escola Parque que tinha 800 lugares.

Com a mudança da diretoria na FCDF o Jogo de Cena deixou de ser uma prioridade no orçamento e parou. Essa pausa durou um ano, até que, em 1989, Alexandre Malta (antigo sonoplasta) propôs uma retomada e, em conjunto com James Fensterseifer, apresentou o projeto ao SESC. A partir de então o programa passou a ser realizando quinzenalmente no Teatro Garagem, onde permaneceu até 1994 sempre ultrapassando a lotação do espaço. Devido a essa superlotação. A partir de 1995, o Jogo de Cena passou a ser apresentado na sala Martins Penna do Teatro Nacional uma vez por mês, onde vem alcançado grande sucesso entre público e a classe artística.

Nos mais de 150 programas realizados ao longo de 15 anos, diversos grupos de teatro, de dança, bandas musicais, edições de livros e revistas, vídeos, artistas plásticos foram por nós promovidos, entre eles se destacam: Câssia Eller, Marcelo Saback, Os Raimundos, Paletó & Gravata, A Culpa é da Mãe, Endança, Hugo Rodas, Irmãos Guimarães, Sônia Paiva, etc.

O Jogo de Cena funciona como um laboratório e uma escola, onde inúmeras informações e experiências são passadas ao público, contribuindo assim, para que seja despertada a potencialidade criadora e artística de muitos jovens. Neste aspecto, o projeto encontrou uma das suas mais significativas dimensões: ajudando a revitalizar, ampliar e consequentemente impulsionar o fazer artístico da cidade.

Esses são alguns quadros do Jogo de Cena:
- Cometa Cenas: Teatro
- Sua Pessoa Dança: Dança
- Se Toque: Música
- Cometa Bala: Pequena performance (artes cênicas)
- Fale Pessoa: Entrevista
- Forma & Ato: Demonstrações de esportes
- Ferro na Boneca: Teatro de bonecos

JOGO DE CENA
Por Alexandre Ribondi

Era o ano de 1985 e um grupo de atores, produtores e pensadores culturais da cidade, preocupados com a constância com que a classe artística brasiliense batia na mesma tecla da falta de espaço para apresentação de produções e da ausência de incentivos para a área, decidiu criar, com a promoção da Fundação Cultural do Distrito Federal, um espetáculo que permitisse a participação de todos os criadores. Foi assim que, na primeira semana de agosto de 1985, a já falecida atriz Cristina Borracha, que insistia em ser chamada pelo seu nome de batismo, que era Cristina Fernandes, subiu ao palco do extinto Teatro Galpãozinho e abriu a primeira apresentação do Jogo de Cena.

A idéia era de uma simplicidade tão engenhosa que tinha, de fato, todos os elementos necessários para funcionar. Durante cerca de duas horas, eram chamados ao palco todos os atores, dançarinos, músicos e artistas plásticos que, em pouco mais de 10 minutos, pudessem mostrar trecho da obra na qual estivessem trabalhando no momento. Desta forma, um diretor de teatro em período de ensaio, com estréia marcada, sabia que tinha um local certo onde anunciar o seu produto e testar a reação do público, já que um pedaço da peça subiria ao palco do Galpãozinho.

Eram, portanto, vários coelhos abatidos com uma só cajadada. Os artistas podiam se exercitar diante da platéia e os produtores podiam vender o produto, escapando da miséria dos meios de comunicação da cidade que, de maneira geral, fria e desprezível, torcem (às vezes com parcialidade, outras vezes por completo) o nariz para o que Brasília produz para o mundo das artes e dos espetáculos. Além disto, havia um outro aspecto muito positivo: finalmente, os jovens brasilienses, que se sentiam abandonados numa cidade onde, em meados dos anos 80, havia menos ainda para se fazer do que os supostamente animados dias de hoje, passaram a ter endereço certo e periódico: a 508 Sul.

Passados 13 anos completos, o Jogo de Cena já mudou de casa algumas vezes, acompanhando o sabor das circunstancias e o andar da carruagem. Do Galpãozinho, que acabou se tornando pequeno, ele passou para o Teatro da Escola Parque (que é lugar hoje esquecido e desconhecido, mas que foi essencial nos primeiros passos das atividades culturais da capital da República). Foi, em seguida, para o Teatro Garagem e, finalmente, estacionou-se na aveludada Sala Martins Penna do Teatro Nacional Cláudio Santoro. O endereço, com ares de nobreza, pode querer dizer que o Jogo de Cena tem vencido na vida, mas algumas idéias básicas se mantiveram.

É no palco da Martins Penna que dois atores, Welder e Pipo, donos da capacidade admirável de arrancar gargalhadas a partir de microfonia, erro de texto ou pum vindo da platéia, têm comandado o espetáculo destes últimos anos. Cristina Borracha decidiu que era hora de morrer, Leo Neiva (um dos nomes do início da empreitada) é dançarino no sul da França, Alexandre Malta (outro responsável pela continuidade do espetáculo) é iluminador em Amsterdam, James Fensterseifer tomou o comando, mas o propósito continua o mesmo: quem tiver espetáculo que vai entrar em cartaz por estes dias, quem quiser mostrar a música que anda fazendo com a banda, as bailarinas que se coçam por apresentar a coreografia recém saída do forno, todos têm a vitrina do Jogo de Cena, que funciona, mensalmente, como uma feira cultural ou um show room de produções brasilienses.

Outros aspectos continuam inalteráveis e inabaláveis. Quando surgiu, o Jogo de Cena não tinha patrocinador. Hoje, passados 13 anos, os patrocinadores continuam ausentes, numa prova evidente de que Brasília tem personalidade forte. James Fensterseifer, que agora trabalha em dupla com Rui Miranda, por exemplo, já pôs o projeto debaixo do braço e bateu à porta de quase todos os empresários e endinheirados desta cidade que é patrimônio cultural da humanidade. Não se pode dizer que eles tenham recebido "não" como resposta. Não é bem isto. Na verdade, eles jamais receberam resposta alguma - para que uma irritante promessa, que nunca se cumpre, paire no ar sobre as cabeças dos produtores do Jogo de Cena.

A bem da verdade, talvez seja querer demais que os empresários e os comerciantes da cidade mostrem interesse por um projeto como o Jogo de Cena, Numa análise agressiva, é possível e muito honesto dizer que estes empresários e comerciantes ainda vêem Brasília como um pote de onde se tira dinheiro. Viciados nesta doce rotina de explorar uma cidade sem amá-la e sem desejar o seu bem, eles ainda não têm capacidade de entender o Distrito Federal também como um mealheiro onde se possa guardar moedas e investimentos que venham a nos servir no futuro.

Mas este entendimento das coisas é excessivamente cruel e, assim, é melhor que outras análises sejam feitas. Por exemplo, o empresariado brasiliense não investe em cultura porque os empresários nunca estão na platéia e não tem, portanto, nenhuma noção do que seja um empreendimento cultural. Se desconhecem, não investem. E desconhecem as atividades cênicas porque chegaram ao cerrado nos anos 50 e, de lá para cá, estiveram sempre muito ocupados empilhando tijolo e erguendo paredes para ir ao teatro e ver como é boa e promissora esta coisa das artes.

O Jogo de Cena somente uma vez teve patrocínio. Durante o ano passado, uma empresa de TV por assinatura deu sua contribuição mensal, que acabou sendo retirada por contenção de despesas. Agora, como antes, todas as 10 pessoas envolvidas nesta produção, que, mês após mês, põe atores, cantores, bailarinos, spots, aparelhos de som, cenários, linóleo, telas, tintas, suores e potes de energia em cena, vivem exclusivamente do que entra na bilheteria da Sala Martins Penna, que vende os ingressos a preços convidativos: quatro e oito reais.

O que parece nunca ter chamado a atenção nem da imprensa brasiliense, nem das autoridades ligadas à cultura, nem dos possíveis (e, a gente já sabe, inexistentes) investidores é que são poucas as cidades que podem anunciar que têm um espetáculo que, nos últimos 13 anos, abriu as cortinas com casa lotada.

Brasília tem o Jogo de Cena que, à semelhança de muitos outros artistas espalhados pelo Brasil inteiro, vive às próprias custas. Mas nenhum artista desta cidade existe sem ter passado antes pela grande vitrine do Jogo de Cena. Muito esquisitamente, parte da cidade ignora o espetáculo. Enganam-se os que se comportam assim porque uma cidade não existe apenas com tijolos, shoppings, ministérios e ladrões de dinheiro público. Uma cidade, qualquer uma, precisa também da arte para respirar.




©Copyright   Recebi essa mensagem pela mala direta de James Fensterseifer <jogodecena@abordo.com.br> e estou publicando aqui para ajudar na divulgação de uma das melhores opções de lazer de Brasília, na minha opinião.

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