Depoimento: Vamos dar uma chance à paz Maria José Maninha Deputada distrital pelo PT Publicado no Correio Braziliense no dia 22/05/2000 Perdi minha filha Mariana, quando ela tinha 18 anos, no inesquecível dia 6 de agosto de 1993. Ela morreu vítima de um acidente de trânsito, 15 dias depois de ter ganho seu carro, motivo de muita euforia. Mariana cruzava a Ponte do Bragueto quando um caminhão que carregava areia, descendo em alta velocidade no sentido inverso, colidiu com ela. Contribuiu para a gravidade do acidente o fato dela não estar usando o cinto de segurança. Sete dias depois, quando já se julgava curada do trauma, Mariana voltou às aulas no curso Objetivo. Lá, sentiu-se mal e acabou morrendo a caminho do hospital, vítima de ruptura do fígado. Dois fatores conjugaram-se para que um acidente de trânsito matasse minha filha: a imprudência e irresponsabilidade do motorista e a inconseqüência de Mariana, que não tinha colocado o cinto de segurança. Foi preciso esse fatídico acontecimento para eu me dar conta da extensão dos problemas relacionados com o simples fato das pessoas usarem automóveis para se locomover; e para que eu me tornasse uma militante pela paz no trânsito, o que todo cidadão consciente deveria ser. Naquele dia, foi minha filha. Ontem, hoje, amanhã, todos os dias, outras mães perdem seus filhos nessa guerra insensata que a humanidade deflagrou contra ela própria. Nada vai trazer minha filha de volta. Nada vai diminuir a dor dessa perda irreversível, apesar de, com o tempo, eu ter aprendido a conviver com ela. Não espero que o processo que movemos contra o motorista vá aliviar essa dor, se a Justiça decidir a nosso favor. Mas se ele e outros assassinos do volante forem punidos, acredito que se constituirá um fator inibidor para os que desrespeitam as leis do trânsito. Impunidade, falta de educação, omissão do Estado. Esse é o triunvirato que dá munição para essa guerra, tão ou mais violenta do que aquelas que se travam nos campos de batalha. As principais vítimas são os jovens, como mostram as estatísticas. O que me alivia é imaginar que o meu exemplo, e o de outros pais, possa servir de alerta para que a população de Brasília volte a respeitar as leis do trânsito. No carro ao lado, não vai um inimigo em potencial, mas o filho, pai ou irmão de alguém. Ao aliviar o pé no acelerador, damos uma chance à paz. Uma chance à vida, à civilidade, à humanidade, que se degrada a cada instante. Os acidentes não acontecem por acaso. Nós fazemos o nosso destino. E o governo tem um papel essencial, educando as crianças, os jovens e adultos e exercendo sua função coercitiva junto aos infratores. Se o número de acidentes fatais voltou a crescer, é porque o governo deixou de fazer a sua parte. ©Copyright Esse texto, de autoria da Deputada Maninha, foi publicado no Correio Braziliense do dia 22 de maio de 2000. Como o Correio não guarda arquivo online de suas matérias, resolvi "guardá-la" aqui, por achar uma mensagem muito importante e que deva ser lida pelo maior número possível de pessoas. ZAMORIM :: Textos :: http://zamorim.com/textos/depoimentomaninha.html |