Enquete sobre pirataria de música

Navegando no site da WEA, a procura de um disco, dei de cara com uma enquete que visava nitidamente espetar a consciência dos internautas que têm o costume de baixar música "ilegalmente". A enquete perguntava assim:

O que você pensa quando está baixando uma música ilegalmente na internet?

Fiquei meio incomodado com esse tipo de abordagem, escrevi uma mensagem ao "webmaster" e se seguiu o seguinte diálogo:


De: Marcus
Para: WEA
Em: 21/01/2002

Sobre a sua enquete sobre o download de música "ilegal" na internet, eu gostaria de responder "pessoalmente":

Se os preços dos CDs não estivessem tão altos, com certeza vocês estariam vendendo mais. E vão se preparando, porque assim que os músicos perceberem a beleza, facilidade e alcance de vender música independentemente pela internet, vocês estarão em apuros.

Vejam bem, que eu não sou contra as gravadoras, mas vocês deveriam pensar seriamente em rever seus procedimentos de distribuição de música. E não adianta vender online pelo mesmo preço que vendem o CD físico. Não, o preço para distribuição online é MUITO menor, então, se os preços não refletirem isso, não adiantará nada.

A gente compraria música online, desde que os preços fossem justos. Enquanto isso, a pirataria só vai aumentar. E não adiantam os sistemas de proteção anti-cópias, porque os hackers estão a anos luz de distância da indústria.

Um abraço
Marcus


De: WEA
Para: Marcus
Em: 21/01/2002 09:53

Caro Marcus,

Entendo sua colocação perfeitamente, mas o problema é que vc gravar e lançar um disco não é barato. Os piratas não tem com que se preocupar com : custos de gravação , direitos dos autores e intérpretes, marketing, etc. Estes custos são altos e bem representativos e mesmo com a Internet eles não desaparecem, em alguns casos apenas se transformam. Se vc for fazer as contas irá ver que o pirata é que cobra caro.

Abs,

O Webmaster


De: Marcus
Para: Webmaster da WEA
Em: 21/01/2002 12:04

Caro Webmaster - seria melhor saber o nome ;-)

Eu gostaria de esclarecer algumas coisas, da visão do consumidor. É preciso distinguir entre dois tipos de pirataria.

1. Venda de cópias ilegais - O primeiro, que é realmente nocivo à gravadora, ao músico e ao consumidor, é quando o espertinho copia o CD e o vende a preços relativamente baixos. Este eu condeno e ponho pra correr sempre que vem me oferecer algum CD. Esse é realmente um aproveitador, enganador.

2. Cópias para uso pessoal - O outro tipo de pirataria, que não gosto nem de chamar de pirataria, é quando eu copio uma música para uso pessoal. Essa prática também pode ser dividida em duas categorias.

a) Cópia de músicas de CDs que eu comprei - Esse caso eu acho um absurdo que seja considerado crime. Copio e vou continuar copiando qualquer CD pelo qual paguei. Eu tenho esse direito e, se não é "legal", eu me dou esse direito. Quero ver quem vai me proibir. Eu paguei por um produto e quero ter o direito de fazer quantas cópias quiser para facilitar minha vida. Seja essa cópia por segurança, seja para ouvir no carro ou no computador do trabalho.

A gravadora querer ganhar dinheiro em cima do tempo ou da quantidade de vezes que eu vou ouvir a música é imoral (estou falando isso por causa de uma notícia que li). Vocês já ganham bastante dinheiro (muito mais que os artistas) com o esquema tradicional.

b) Cópia de músicas de CDs que eu não comprei - Essa é a prática mais controvertida, que ganhou tanta notoriedade por causa do Napster e similares. Essa realmente causa dúvidas, mas vocês são cegos, se não perceberem que ela também gera interesse pelo CD e principalmente pelo artista. No início do Napster as pessoas copiavam as músicas e, quando gostavam, acabavam comprando o CD. É isso que sempre foi feito. Um amigo me grava uma fita e, quando eu gosto de uma música, compro o CD original.

Quando falei, na mensagem anterior, sobre os artistas perceberem o poder da internet, estava me referindo justamente a esse interesse que pode ser direcionado pra eles, quando sua música chega até o Japão, em segundos. Imagina como isso pode aumentar o seu público em shows!

Essa queda que se divulgou na venda de CDs, e que foi atribuída à troca online, é culpa exclusivamente das gravadoras. Primeiro pelo preço alto de mais que está sendo cobrado. Depois pela grande antipatia que vocês estão gerando com esse combate arrogante e alardeada à troca de música. Conheço gente que parou de comprar CDs originais justamente por isso.

Se vocês estivessem usando todo esse esforço de combate a sistemas como o Napster para desenvolver um bom sistema de distribuição online de músicas, estariam ganhando muito mais. Uma única faixa vendida online, A UM PREÇO JUSTO, poderá lhes render mais que a venda de um CD inteiro, em certos casos. O alcance é mundial e a infra-estrutura de distribuição é muitíssimo mais barata.

Enfim, o problema está quase todo nas gravadoras. A cópia e troca de música sempre existiu e continuará existindo. As gravadoras podem gritar, espernear, criar sistemas anti-cópia. Quanto a este último, eu já disse, os hackers estarão sempre na frente de vocês. Quando o K7 foi lançado, vocês gritaram um bocado. Levaram prejuízo? Claro que não! Com o K7, a divulgação das músicas aumentou, o que gerou aumento de interesse nos discos. Nas rodoviárias da vida, sempre encontramos os vendedores de K7s piratas. Prejuízo? Insignificante, já que a venda de discos aumentou um bocado. Como aplicar isso ao que está acontecendo hoje? Vendam muitas músicas online, que o prejuízo com a troca de arquivos digitais também será insignificante. E muito importante: ABAIXEM OS PREÇOS DOS CDS!

Um abraço
Marcus

ps. Essas mensagens chegam aos "responsáveis" pela gravadora?


De: WEA
Para: Marcus
Em: 22/01/2002 10:10

Caro Marcus,

Como diria Jack, vamos por partes.
Estou respondendo as suas colocações abaixo.

Abs,
O Webmaster


Caro Webmaster - seria melhor saber o nome ;-)

(sem resposta)

Eu gostaria de esclarecer algumas coisas, da visão do consumidor. É preciso distinguir entre dois tipos de pirataria.

1. Venda de cópias ilegais
O primeiro, que é realmente nocivo à gravadora, ao músico e ao consumidor, é quando o espertinho copia o CD e o vende a preços relativamente baixos. Este eu condeno e ponho pra correr sempre que vem me oferecer algum CD. Esse é realmente um aproveitador, enganador.


Não há o que dizer.

2. Cópias para uso pessoal - O outro tipo de pirataria, que não gosto nem de chamar de pirataria, é quando eu copio uma música para uso pessoal. Essa prática também pode ser dividida em duas categorias.

a) Cópia de músicas de CDs que eu comprei - Esse caso eu acho um absurdo que seja considerado crime. Copio e vou continuar copiando qualquer CD pelo qual paguei. Eu tenho esse direito e, se não é "legal", eu me dou esse direito. Quero ver quem vai me proibir. Eu paguei por um produto e quero ter o direito de fazer quantas cópias quiser para facilitar minha vida. Seja essa cópia por segurança, seja para ouvir no carro ou no computador do trabalho.


Isto é perfeitamente legal do ponto jurídico.

A gravadora querer ganhar dinheiro em cima do tempo ou da quantidade de vezes que eu vou ouvir a música é imoral (estou falando isso por causa de uma notícia que li). Vocês já ganham bastante dinheiro (muito mais que os artistas) com o esquema tradicional.

Eu não sei o que vc leu exatamente, mas pode ser q seja interssante. Isso depende de como seria implementado este negócio. Por exemplo, quantas vezes vc não comprou um disco q vc ouviu apenas uma única vez e gastou a maior grana? Em alguns casos vc pagaria apenas uma mínima fração pelo álbum e outras um pouco mais. Quero deixar bem claro : isto é uma suposição minha, pois não sei de que reportagem vc está falando exatamente!

Quanto a ganhar muito mais que os artistas, isto é uma suposição sua. Para divulgarmos um artista novo, muitas vezes temos prejuízo no álbum. Há pesquisas (em especial no EU) que mostram que para cada 10 lançamentos apenas 2 dão lucro.

b) Cópia de músicas de CDs que eu não comprei - Essa é a prática mais controvertida, que ganhou tanta notoriedade por causa do Napster e similares. Essa realmente causa dúvidas, mas vocês são cegos, se não perceberem que ela também gera interesse pelo CD e principalmente pelo artista. No início do Napster as pessoas copiavam as músicas e, quando gostavam, acabavam comprando o CD. É isso que sempre foi feito. Um amigo me grava uma fita e, quando eu gosto de uma música, compro o CD original.

Discordo de vc. Tenho muitos amigos que não compram mais CD devido a disponibilidade das músicas no Napster. E se não houver remuneração pela música, como poderemos produzir novos lançamentos?

Quando falei, na mensagem anterior, sobre os artistas perceberem o poder da internet, estava me referindo justamente a esse interesse que pode ser direcionado pra eles, quando sua música chega até o Japão, em segundos. Imagina como isso pode aumentar o seu público em shows!

Concordo com vc. Alerto apenas que existe um trabalho a ser feito, seja pelo próprio artista ou pela gravadora, de divulgação deste trabalho no meio de um universo infinito de novos artistas. Para artistas conhecidos é mais fácil, pois os fãs já conhecem o site, mas e para os novatos ou para aqueles que gostam do artista mas não tem tempo de visitar o site dele?

Essa queda que se divulgou na venda de CDs, e que foi atribuída à troca online, é culpa exclusivamente das gravadoras. Primeiro pelo preço alto de mais que está sendo cobrado. Depois pela grande antipatia que vocês estão gerando com esse combate arrogante e alardeada à troca de música. Conheço gente que parou de comprar CDs originais justamente por isso.

Desculpe-me, caro Marcus. Mas as pessoas procuram sempre desculpas para justificar este tipo de atitude (não comprar CDs ou comprar CDs piratas). Acho isto injustificável.

Se vocês estivessem usando todo esse esforço de combate a sistemas como o Napster para desenvolver um bom sistema de distribuição online de músicas, estariam ganhando muito mais. Uma única faixa vendida online, A UM PREÇO JUSTO, poderá lhes render mais que a venda de um CD inteiro, em certos casos. O alcance é mundial e a infra-estrutura de distribuição é muitíssimo mais barata.

Estamos em testes como MusicNet (www.musicnet.com). Infelizmente hoje está funcionando apenas nos EU.

Enfim, o problema está quase todo nas gravadoras. A cópia e troca de música sempre existiu e continuará existindo. As gravadoras podem gritar, espernear, criar sistemas anti-cópia. Quanto a este último, eu já disse, os hackers estarão sempre na frente de vocês. Quando o K7 foi lançado, vocês gritaram um bocado. Levaram prejuízo? Claro que não! Com o K7, a divulgação das músicas aumentou, o que gerou aumento de interesse nos discos. Nas rodoviárias da vida, sempre encontramos os vendedores de K7s piratas. Prejuízo? Insignificante, já que a venda de discos aumentou um bocado. Como aplicar isso ao que está acontecendo hoje? Vendam muitas músicas online, que o prejuízo com a troca de arquivos digitais também será insignificante. E muito importante: ABAIXEM OS PREÇOS DOS CDS!

Gostaria de poder lhe dar mais detalhes, mas o tempo hoje está meio curto. Mas posso lhe garantir, o custo para lançamento de um álbum (em especial de um artista novo) é extremamente alto e que faz com q os preços do CD sejam estes mesmos. Não existe esta história (ao menos hoje em dia) de que a gravadora ganha rios de dinheiro enquanto os artistas estão na penúria. Mas vamos torcer que surjam novos modelos de negócio em que todos saiam ganhando (autores, artistas, produtores, lojistas, consumidores, etc).

Um grande abraço,



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